Metáfora e pontuação em textos literários
Ponto de partida: Entregue aos alunos uma folha com o poema "Questão de pontuação", de João Cabral de Melo Neto. Faça a leitura do poema em voz alta.
Questão de pontuação Todo mundo aceita que ao homem cabe pontuar a própria vida: que viva em ponto de exclamação (dizem: tem alma dionisíaca); viva em ponto de interrogação (foi filosofia, ora é poesia); viva equilibrando-se entre vírgulas e sem pontuação (na política): o homem só não aceita do homem que use a só pontuação fatal: que use, na frase que ele vive, o inevitável ponto final. MELO NETO, João Cabral de. Museu de tudo e depois. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 146 |
Objetivos
1) Levar o aluno a identificar a metáfora em textos poéticos.
2) Desenvolver no aluno a habilidade de reconhecer o emprego da pontuação.
3) Mostrar aos alunos que o estudo gramatical não é um fim em si mesmo, e que está, por exemplo, relacionado aos estudos literários, pois o emprego que fazemos de certas regras gramaticais deve-se ao fato de explorarmos, na expressividade da língua, os recursos estilísticos do texto.
Estratégias
1) Mostre aos alunos que o poeta estabelece uma relação entre a vida e a pontuação. ("Todo mundo aceita que ao homem / cabe pontuar a própria vida".)
2) Explique para os alunos que o poeta utiliza os sinais de pontuação como metáforas de comportamentos ou atitudes humanas, ou seja, para o eu lírico cabe ao homem escolher como agir ou reagir diante das diferentes situações da vida: que ele se encante e se espante (viva em ponto de exclamação); que se questione sempre sobre o que vive ou presencia (viva em ponto de interrogação); que viva oscilando e, muitas vezes, que não tome partido, quando se trata de questões políticas.
3) Peça aos alunos que reflitam e respondam o que, no contexto do poema, nos dois versos finais do texto, significam "frase" e "o inevitável ponto final"?
4) Mostre ao alunos, no verso "(dizem: tem alma dionisíaca)", o sentido que os dois pontos expressam. Ou seja, explique a eles que a afirmação feita é reprodução do discurso de outras pessoas, e não, necessariamente, o que o eu lírico acredita ou assume como sua opinião a respeito do homem.
Comentários
Esse é não apenas um ótimo exercício para se trabalhar com figuras de linguagem e gramática, em sala de aula. É, antes de tudo, uma forma de demonstrar que os estudos de língua e literatura não são segmentos estanques e dicotômicos na prática diária do ensino-aprendizagem da língua portuguesa.
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