Literatura de cordel
A Chegada dos Deputados no Inferno.
Autoria Coletiva.
Junho 2011.
De um grande acontecido
Esta é a narrativa
Satanás e Deputados
Numa afronta decisiva
A terrível trajetória
Acompanhe essa história
De autoria coletiva.
O Capeta reclamava
De tanta monotonia
Que o inferno já não tinha
Toda aquela euforia
Foi quando de supetão
Ouviu-se lá do portão
Uma enorme gritaria.
Satanás foi atender
Já um tanto irritado
As 18 autoridades
Que haviam recém-chegado
Eles vestido de terno
E a entrada do inferno
Tinha um cheiro de queimado.
"O que está acontecendo?
Alguém pode me explicar?
Que o caminho do inferno
Não é tão fácil de achar
O que esse monte de gente
Vem fazer na minha frente
Se eu nem precisei buscar?"
"Farei esclarecimento
Pois sou mais habilitado
Eles são Parlamentares
Eu, Governador de Estado
Que um bando de professores
Taxou-nos de traidores
De um passo que dei errado!"
Nesse instante, todo o grupo
Ia se pronunciar
Os homens com prepotência
As mulheres a chorar
Foi quando o vil Capeta
Pra acabar com a faceta
Resolveu organizar.
"Eu acho melhor parar
Com toda essa agonia
Que o acesso ao inferno
É o Capeta que avalia
Pra passar desse portão
Farão uma avaliação
Com o Índice Mares Guia."
"Sou o Líder do Governo
E digo para o Senhor
Mares Guia nem morreu
É um homem de valor!"
Satanás bateu o pé:
"Quem ele pensa que é,
Pra avaliar professor?"
"Ele trabalha pra mim
Já você está perdido
Até sua biografia
Parece ter esquecido
Quem se alia a opressor
Pra avaliar professor
Tem o inferno garantido."
"Líder e Governador:
O portão está aberto
Ficarão no 5º andar
Por comportamento incerto
Fizeram o que queriam
Porque ainda não sabiam
Que a morte estava tão perto."
Chegaram no 5º andar
Uma baita confusão
Era uma Festa Junina
E havia um fogueirão
Uma música estridente:
"Aqui queima eternamente
Quem pagou com traição!"
Enquanto isso, o Capeta
Que até se divertia
Seguiu a avaliação
Ao lado do Mares Guia:
"Ora, ora! Veja, veja!
Veio até Pastor de Igreja
Para a minha hospedaria!"
"Alto lá! Eu sou Cristão!
Não tenho o menor receio!"
Satanás deu uma risada
Cortou a frase no meio:
"Olha quem está falando!
Meu amigo, vá entrando
Do seu tipo, aqui ta cheio!"
"Vou chamar uma mulher
Pra saber como se sente
Que por causa de uma assim
Adão vive descontente
Sabem se fingir de boas
E até hoje as pessoas
Botam culpa na Serpente."
Aproximou-se uma delas
Delicada igual tulipa:
"Como pode ser queimada
Alguém que não participa?!"
Outra mais descontrolada:
"E eu que além de ser queimada
Ainda apanhei de ripa?"
O Capeta disse logo:
"Estão na mesma sacola!
Não tem choro, não tem vela
Seu discurso aqui não cola
Portão aberto, doutora!
Inclusive a professora
Que nunca foi à escola!"
"Quanto à nobre Deputada
A qual chamam de 'Paquita'
Vai trocar todo esse ouro
Por 'bijou' e marcassita
Pois aqui é diferente
Já que não é consciente
Também não vai ser bonita."
O Maligno avistou
Três na "Ala Infantil"
Um ligava para o pai
Outro tentou ser hostil
Já outro descontrolado
Foi logo encaminhado
Para a área juvenil.
O Capeta esbravejou:
"Tem gente que não se emenda!
Estou ficando nervoso
No meio dessa contenda
Vou ligar pro firmamento
Pois esse carregamento
Me veio de encomenda!"
E, completando o enredo
Atendendo ao seu comando
Os portões, então, se abriram
Os demais foram entrando
Satanás deu gargalhada:
"Vamos lá, rapaziada!
Que aqui está só começando!"
Porém, antes dos portões
Se fecharem por completo
O Cão ouviu um barulho
Foi ver, estava correto
O deputado se esquivou
Mas vendo o Cão, exaltou:
"Meu amigo predileto!"
"Na verdade, Seu Capeta
Confesso que estou com medo
Mas eu faço um pedido
E quero manter segredo:
Como eu sou radialista
Me conceda uma entrevista
Meu programa é logo cedo."
O Satanás aceitou
Movido pela vaidade:
"Faça logo essas perguntas
Que eu lhe direi a verdade
Já que tudo está perdido
Vou me tornar conhecido
Naquela localidade."
"Seu Capeta, me responda:
Por que tanta aspereza?
O Senhor está falando
Com uma pessoa ilesa
Fale-me dos seus valores
E por que aos professores
O Senhor parte em defesa?"
"Você quer ser professor?"
Perguntou o Satanás
"Ganhar quanto ele ganha
Fazer o que ele faz
E no final da sentença
Padecer com uma doença
Que a profissão lhe traz?"
"Acordar de manhã cedo
E ter um dia corrido
Trabalhar com os anjinhos
Falando no seu ouvido
Ser bastante tolerante
Ter diretor arrogante
Se achando bem resolvido?!"
"Aquele que está no 5º
Fez sua pior besteira
Escreveu própria sentença
Quis dividir a carreira
Daqueles que o aclamaram
Todos se decepcionaram
E os puseram na fogueira."
"Os professores que vejo
Caminham de déu em déu
Fazem ato, assembleia
Ninguém lhe tira o chapéu
Assim, nessa profissão
Ninguém vem ao inferno, não!
Vão direto para o céu!"
O radialista, então
Mostrando-se indignado
Finalizou a entrevista
Nervoso, preocupado
Ainda fazendo drama:
"Vou dizer no meu programa:
Fui um homem injustiçado!"
O Capeta disse ao nobre:
"Passe já pelo portão!"
O injustiçado ainda
Fazia reclamação:
"Professor que me esqueça!
Eu não tiro da cabeça
Que eles têm parte com o Cão!"
Neste dia, no inferno
Foi uma calamidade
Pois todos os Deputados
Queriam mais liberdade
Tanto que o Satanás
Nomeado incapaz
Perdeu sua autoridade.
Eles se organizaram
Temendo maior perigo
E no 5º do Inferno
O Líder chamou o amigo
Quando a sessão começou
O Governador tomou
A cadeira do Inimigo.
O Cão queria falar
Mas perdeu a paciência
O Governador falando
Com bastante eloquência:
"Oratória é uma arte
Não concedo um aparte
Para Vossa Excelência!"
"Acredito que ao Inferno
Cabem modificações
Encaminharei um Plano
Vocês formem Comissões
Anotem na caderneta
O salário do Capeta
Pago em 8 prestações."
"Não estou acreditando
No que eu ouvi de fato
Este é um alto preço
Que parecia barato
Isso é perseguição!
Não tenho filiação
A um forte sindicato!"
"Na cadeira do meu reino
Este homem não se senta
Eu agora compreendo
O que professor enfrenta
Vou retomar meu Inferno
Pois esses homens de terno
Nem o Satanás aguenta!"
O Capeta preparou
Uns 18 fogueirões
Um faixa que dizia:
"Os Mestres das Ilusões!
Algozes do Magistério
Queimados no cemitério
Ou dormindo nos caixões!"
Satanás insatisfeito
Pra conseguir seu intento
Procurou Alan Kardec
"Desse jeito eu não aguento!
Vai ser a Terceira Guerra
Mande de volta pra Terra
Ou leve pra o Firmamento!"
Alan Kardec aceitou
Com Jesus foi conversar
Pegou autorização
Para a Terra os enviar
"Nem tão cedo voltarão
Pois eles têm um montão
De contas para acertar!"
Quando ficaram sabendo
Sentiram muita aflição
O Governador falou:
"Eu não volto pra lá não!
Aqui não tem professor
E o Cão como opositor
É melhor que a oposição!"
O Cão disse: "Estou feliz!
Vocês não fazem ideia
Volte para o seu Palácio
E vocês para a Assembleia
Que não há maior castigo:
Professor como inimigo.
Boa sorte na estreia!"
Acendeu-se forte luz
Ouviu-se alto zumbido
E o vermelho do Inferno
Transformou-se em colorido
Na travessia dos Mundos
Numa questão de segundos
Todos haviam sumido.
Ele acordou de repente
Muito nervoso e suado
E na sua mesa, um Plano
Prestes a ser enviado
Com uma letra cursiva
À Assembleia Legislativa
Do Governo do Estado.
Recordando o que vivera
Em um padecer medonho
Ele tentou decifrar
Seu pensamento tristonho
O Governador, então
Foi chegando à conclusão:
Tudo não passou de um sonho!
Saiu da sala correndo
Pra conversar com alguém
Naquela sala vazia
Veio uma voz do além:
"Meu caro Governador,
Valorize o Professor
Para o seu próprio bem!"
Aqui finda uma história
Da mais pura inocência
É preciso que os Governos
Dêm mais valor a Docência
Afirmo com confiança
Aqui, qualquer semelhança
É mera coincidência...